Nada
é capaz de nos impedir de realizar os nossos sonhos. Nosso entrevistado é um exemplo
vivo
Nosso entrevistado é dr. José Chilaule, decente
filiado a faculdade de Educação da UEM. Lecciona as cadeiras de Abordagem das
Deficiências Mental (ADM) e Intervenção Especifica em NEE (IENEE).
Reside no Bairro Hulene com os seus pais e familiares. Para além da docência gosta de praticar desporto (FUTSAL), aos finais de semana, escutar musica e conversar. Leia a seguir a entrevista completa.
Reside no Bairro Hulene com os seus pais e familiares. Para além da docência gosta de praticar desporto (FUTSAL), aos finais de semana, escutar musica e conversar. Leia a seguir a entrevista completa.
1.
Em que
momento da vida perdeu a visão? E como isso decorreu?
R: Perdi parcialmente a visão, aos 8 anos, e após
uma cirurgia mal sucedida, perdi-a totalmente, aos 11 anos de idade, acontecia
que tinha dificuldade de ver durante o dia, pelo que, precisava sentar junto ao
quadro na Escola Primária 12 de Outubro (1ª classe) e de noite não enxergava
nada.
2.
Quais as
maiores dificuldades enfrentadas após a perda da visão?
R: Quando perdi a visão, na minha família existiam
2 grupos: o primeiro, que achava que estavisse tudo perdido, e que já não
pudesse mais estudar e muito menos adquirir um grau superior. E o segundo, que
após as recomendações dadas pelo oftalmologista que me atendeu durante e
pós-cirurgia, que acreditava nas minhas capacidades, tendo sido, explicado da
existência de uma escola especial na cidade da Beira, que acolhia pessoas como
eu, e que podia continuar com os estudos.
3.
Onde se
formou, adquiriu as suas habilitações literárias?
R: Antes de perder totalmente a visão, estudei
numa escola regular na cidade de Maputo, no bairro de Hulene, que chamava-se
Escola Primária 12 de Outubro, e fiz apenas a 1ª classe.
Depois da perda total, fui transferido para uma
escola, então chamada de Escola Integrada da Beira. De 1ª a 5ª classe estive na
mesma escola, que era mais um internato, onde aprendíamos todas as tarefas domésticas,
desde cozinhar, lavar, passar, e até costurar nossa roupa. De 6ª a 12ª estava
numa outra escola, que estive perto do internato (cerca de 1 hora andando a
pé), e íamos sozinhos e não enfrentávamos dificuldades para lá chegar, e nem
durante o período em que lá estive. Por fim, fiz o ensino superior na
Universidade A Politécnica no período de 2006 à 2010.
4. Quando entrou na Universidade Eduardo Mondlane (UEM)?
R: Concorri em 2010, em Janeiro, nos concursos normais que a UEM abre todos os anos. E após a submissão da candidatura, fui chamado para a entrevista no período entre Junho e Julho do mesmo ano. Foi a primeira e a única instituição em que concorri.
5.
Quais as
dificuldades enfrentadas na UEM?
R: Bem, as dificuldades nunca faltam, sobretudo
quando és deficiente visual. Na UEM em particular, as maiores dificuldades
resultaram do receio dos outros em relação a minha condição, ou seja, primeiro
como iria relacionar-me com os colegas, e a reacção dos outros colegas para
comigo. Mas, como sempre, existem os que de primeira se aproximaram, e criamos
amizades, e os outros, que tem algum receio em relação a mim.
6. Qual meio de transporte que usa para sua deslocação?
R: Do momento não tenho transporte pessoal, pelo
que, uso os meios semi-colectivos, e por vezes, boleia de alguns colegas e/ou
conhecidos.
7. Actualmente, quais são constrangimentos existentes na família/comunidade em relação a deficiência visual?
R: Por ter provado a todos que tinha capacidades
de estudar como qualquer outra criança, a minha família, me deu muito apoio e
sempre esteve do meu lado, e mesmo aqueles que tiveram receio logo após a
deficiência, agora estão confiantes, sobretudo quando entrei para o ensino
superior em 2006.
8.
E na UEM?
R: Como disse, sempre existem receios quando se
trata de pessoas com deficiências, sobretudo, visual. Embora alguns não sejam
abertos ou acessíveis para comigo, tenho boas relações com todos, e a grande
dificuldade que sinto dentro da UEM, é em relação a:
- Materiais: não há obras em braile; impressoras e laptop com software de voz para que eu possa usar, pelo que, preciso de arranjar matérias sozinho.
- Currículo de Psicologia de NEE: acredito que não estejamos a preparar adequadamente os estudantes, e precisamos trabalhar muito nisso, para que os psicólogos desta área, saiam efectivamente formados e com capacidades de ajudar a crianças/pessoas com NEE.
9.
Tem muitos amigos? E como é a relação com
eles?
R: Tenho sim. Tenho muitos amigos na zona onde
vivo, pois, como disse, vivo lá desde quando nasci, e, mesmo tendo-me ausentado
para estudar na Beira, continuaram meus amigos até hoje. A relação com eles é espectacular, e brinco normalmente com
eles, e eles já conhecem os meus defeitos e eu, os deles. É uma relação como
qualquer outra.
Por Ercia Celeste
Reeditado por Cândida Muvale
Reeditado por Cândida Muvale
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